Dia desses, andando em Ipanema, passei em frente a uma loja chamada “Amazônia Soul”, que se auto-intitula a primeira “amazon store” do país. Título e subtítulo já não me agradaram. A loja me pareceu armadilha pra turista e já estava decidida a seguir caminho quando li em algum canto a palavra “maniçoba”, que, pra mim, funcionou como uma senha a me fazer entrar.
Aos poucos, fui me dando conta de que, no que diz respeito à região Norte do Brasil, minha condição não difere muito da dos gringos que eventualmente passam por ali. Pouco ou nada conheço. Olhava a cerâmica marajoara que cobria as prateleiras da loja, mas não tinha como aferir sua autenticidade, pois nunca vi de perto, in loco, a verdadeira cerâmica marajoara. Com o cardápio não foi muito diferente. Mas o fato é que eu queria experimentar a maniçoba, prato típico conhecido como “feijoada paraense” ou “feijoada amazônica”, onde o feijão é substituído pela maniva, que é a folha da mandioca brava. O prato, tão saboroso como surpreendente, me remeteu a tanta coisa que nem sei explicar. Não sei se essas divagações fazem algum sentido e sei menos ainda se a maniçoba que comi era, de fato, boa. Afinal – e é com certa vergonha que digo isso –, não tenho outra referência, outro parâmetro. Maniçoba pra mim, por enquanto, continuará sendo aquilo que experimentei ali.
Pedi, ainda, um belo copo de suco de muruci (também chamado murici), deliciosa frutinha amarelíssima a que fui apresentada há alguns meses, pelas mãos do chef Roland Villard, no Menu Amazônia do Le Pré Catelan, e que me encantou profundamente.
E não poderia deixar a loja sem saborear uma taça do sensacional sorvete paraense Cairu, do qual sou fã incondicional desde a primeira vez em que cruzou meu caminho, lá se vão uns bons anos. O de bacuri é algo a ser saboreado aos poucos, com a contemplação que uma pequena jóia merece. O de tapioca ou o de açaí, igualmente, não merecem menos respeito.
Saí sem ter certeza de se tratar a Amazônia Soul uma autêntica representante de elementos genuínos de um Brasil que mora tão longe - e não falo apenas de geografia - ou apenas algo pensado pra vender a Amazônia de forma rasa àqueles que pouco ou nada conhecem da região. O fato de, ao longo do tempo em que permaneci ali, ter testemunhado a visita de dois paraenses que lá foram pra comer tacacá e a própria maniçoba me soou como algo positivo. Mas, no fundo, a única certeza que eu tinha, ao deixar a loja, é a de que é preciso botar o pé na estrada e ir ver de perto esse Brasil ainda tão pouco conhecido dos próprios brasileiros.
Amazônia Soul – Rua Teixeira de Melo 37 (esquina com Prudente de Morais, em frente à Praça General Osório).
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