Ao entrar no Carême Bistrô na noite da última quinta-feira, fui tomada por uma onda de nostalgia. Era um dia de despedida. O restaurante da grande chef Flávia Quaresma, que fez história no Rio de Janeiro, fechara as portas no sábado anterior. Naquela quinta-feira, estava aberto apenas para um pequeno grupo de pessoas: profissionais e estagiários que passaram pelo bistrô nos últimos anos. Eu tive o privilégio de fazer parte desse grupo. Nos seis meses de estágio que lá fiz em 2006, pude presenciar o dia-a-dia do restaurante acontecendo diante dos meus olhos, sempre curiosos. Muitas das sementes que cresceram dentro de mim e me guiaram até esse blog que hoje escrevo foram plantadas ali. Por isso a nostalgia. Era a última vez que eu entraria ali. A última vez que veria aquele salão arrumado, as mesas postas, os livros e objetos nas paredes...
O curioso foi que o estado de espírito de Flávia naquela noite mudou o meu olhar. Não se tratava de uma despedida mórbida, mas de uma celebração. O quadro-negro, que antes anunciava as sugestões da casa e a temperatura do dia em Paris, estava repleto de mensagens carinhosas das pessoas presentes. Lindos girassóis espalhados pela casa e uma bela croquembouche (sim, era mesmo dia de festa) no balcão davam o tom da noite.
Flávia escolheu festejar esse momento em vez de lamentá-lo. Mostrou sabedoria rara: aquela de encerrar um ciclo com tanta energia e celebração com que se inicia. Portanto, passamos a noite celebrando.
Brindamos ao novo momento de vida daquela que, generosamente, ajudou tantos profissionais a darem seus primeiros passos no universo da gastronomia...
Quem quer que passasse por ali naquela noite não teria a menor dúvida do enorme agradecimento que todos esses profissionais devotam a Flávia. Ser grande é isso. É não ter medo de dar asas a quem quer aprender a voar; não se sentir ameaçado pelo vôo do outro. Quaisquer que sejam os caminhos que Flávia percorra daqui por diante, estou certa de que essa marca ela continuará deixando por onde passar.