Depois de alguns dias percorrendo a tradição da cozinha romana, encerrei minha passagem pela cidade com um jantar no restaurante do premiado Antonello Colonna. O chef, que era estabelecido em Labico, cidadezinha próxima a Roma, mudou-se há algum tempo pra capital italiana. Instalou-se no terraço do Palazzo delle Esposizioni, um imponente edifício histórico. O amplo e elegante salão tem seu ambiente ampliado pelas paredes envidraçadas, que colocam ao alcance dos olhos os prédios vizinhos. Um belo cenário.
Mal nos sentamos, fomos brindados com gostosos arancini e sardinhas empanadas, ludicamente acomodadas em latinhas.
Como amuse bouche, atum empanado sobre uma porção de levíssima maionese caseira.
Em seguida, delicados raviólis recheados com crème fraîche e salpicados com caviar, que acabaram um tantinho apagados pelo sabor e pela personalidade do prato seguinte...
O Negativo di Carbonara foi um dos pontos altos da noite. O chef apresenta sua versão do Carbonara, que, em suas mãos, deixa de ser molho e passa a ser recheio, o sabor aprisionado dentro de meia dúzia de cappellacci, que dividem o prato com um delicioso creme de parmigiano e pedacinhos de guanciale. Bravo.
Depois disso, ficava difícil pro próximo prato. Mas o Jumbo Quail deu conta do recado. Um desses pratos com os quais a gente mais que se alimenta, se diverte. A codorna entra em cena sob várias abordagens: peito grelhado, perninhas empanadas em farelo de pão e milho, e até um hambúrguer. Sim, um delicioso hambúrguer de codorna. E, ainda, legumes grelhados, cogumelos salteados, cavolo nero envolto em tirinhas de guanciale, um ovo de codorna frito, com direito também a ketchup e béarnaise caseiros.
Pra minha surpresa, não sei se por um erro de serviço ou se por se pretender transformá-las, intencionalmente, em pre-dessert, as mignardises aterrissaram em minha mesa antes das sobremesas. Antes que a interrogação tivesse tempo de se instalar, devorei-as quase todas. Irresistíveis. Biscoitos, tarteletes, pirulitos de sorbet de alcaçuz cobertos de chocolate. Junto a elas, uma versão do duo croissant + capuccino, que aqui era um creme de café com chantilly. Impecável.
Sobremesas pra quê? Bem, já havíamos comandado, iríamos até o fim. Das três que passaram por nossa mesa, a que achei mais fraca foi justamente a que me havia parecido mais interessante: creme brulê aromatizado com o charuto italiano Toscano, acompanhado de uma espécie de beignet, de um biscoitinho de tabaco e um molho de chocolate quente. Entra na categoria "interessante", mas gostosa, de fato, não era.
O suflê de avelãs, apesar de ser uma escolha mais óbvia, estava muito melhor. Sabor intenso de avelãs. Difícil decidir se o melhor era regá-lo com o molho de chocolate, de caramelo ou de baunilha.
Mas a campeã das três sobremesas foi o Diplomatico Crema e Cioccolato, um mil folhas feito com massa folhada de chocolate, abraçando dois recheios: creme de confeiteiro e creme de chocolate. Ao lado, uma providencial porção de caramelo salgado. Acho que nem na França comi uma massa folhada melhor e mais delicada. A crocãncia reverberava no céu da boca num efeito sem igual. Já comi belos exemplares por aí, mas tenho dúvidas se já fui apresentada a um mil folhas tão bom quanto esse de Colonna.
E com essa pequena joia encerrei minha última noite em Roma.
Open Colonna - Palazzo delle Esposizioni – Scalinata di via Milano 9A
www.antonellocolonna.it
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